terça-feira, 28 de agosto de 2012

domingo, 26 de agosto de 2012

Michel Foucault (1926 - 1984)

Da sociedade disciplinar à sociedade de controle[1]

Introdução

Um medo assombrou a Europa, na segunda metade do séc. XVIII. Os cemitérios, conventos, hospitais e prisões suscitavam uma onda de desconfiança e rejeição. Eram ambientes escuros que impediam a visibilidade das coisas, das pessoas e das verdades. Estes ambientes eram  incompatíveis com a nova ordem política. Pelo que era necessário eliminar esta obscuridade e escuridão, de modo a dar lugar à transparência e visibilidade.
O problema das prisões foi o que tomou maior ênfase. Era tema de estudo e discussão na sociedade da época. A situação de “espaço de vício e de crime” e lugar desprovido de higiene forçou a procura de um projeto de reorganização das prisões. Panóptico de Geremy Bentham  foi caracterizado como a “figura arquitetural” ideal.  
    Segundo Foucault o Panóptico despertou interesse, pelo fato de ser aplicável a muitos domínios diferentes. Não se tratava apenas de uma prisão. O Panóptico é um princípio geral de construção, um dispositivo polivalente de vigilância, uma máquina óptica universal das concentrações humanas.

É polivalente em todas as suas aplicações: serve para emendar os prisioneiros, mas também para cuidar dos doentes, instruir os escolares, guardar os loucos, fiscalizar os operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos. 
                                          Foucault,(1997),pag:170

Bentham concebeu o Panóptico não com um  único destino, mas com algumas adaptações serviria tanto para prisões quanto para hospitais, escolas e fábricas.
Foucault vê o Panóptico como uma “diabólica peça de maquinaria, um microcosmo idealizado da sociedade do séc. XIX. Onde a disciplina se torna institucionalizada nas prisões, nas escolas, nos hospitais e nos asilos. Esta age mediante a interiorização de uma sujeição que era implantada nas mentes através da vigilância. Servia para corrigir os prisioneiros, para cuidar dos doentes, instruir os estudantes, guardar os loucos, fiscalizar os operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos. Em cada uma das suas aplicações, permitia aperfeiçoar o exercício do poder.
Panóptico constituiu ou ajudou a construir, uma forma de poder no final do séc. XVIII. Este poder passou a imperar nas prisões, hospitais, fábricas, conventos e escolas, aperfeiçoando gradualmente o seu alcance até aos indivíduos. Ao contrário da escuridão das masmorras ou da punição exemplar transformada em espetáculo, o poder disciplinar projeta luz sobre cada condenado, baseando-se na visibilidade, na regulamentação minuciosa do tempo e na localização precisa dos corpos no espaço. Isto possibilita o controle, o registro e a acumulação de saber sobre os indivíduos vigiados, de forma a torná-los dóceis e úteis à sociedade. Instaura-se assim uma nova tecnologia do poder, que se torna cada vez mais complexa e abrangente. Passa-se então do Panóptico ao panoptismo. 
O panoptismo é o princípio geral de uma nova “anatomia política. O seu objeto e finalidade não são a relação de soberania, mas as relações de disciplina. Desta forma, Foucault observa a formação de uma sociedade disciplinar, situada nos séc. XVIII e XIX, que atingiu o seu apogeu no início do séc. XX.
Todavia, a sociedade disciplinar, que se fundamentava na organização dos grandes meios de confinamento, família, escola, caserna, fábrica, hospital e prisão, atravessou uma crise. Depois da Segunda Grande Guerra, o modelo emblemático das sociedades disciplinares começa a ser substituída por um novo modelo. Constituíam-se novas formas de sociabilidade e de subjetividade num momento que se marca pela passagem de uma sociedade disciplinar para uma sociedade de controle.
Em “Vigiar e Punir, Foucault define os mecanismos de sujeição do corpo como uma tecnologia. Há um saber sobre o corpo e um controle sobre as suas forças. Na sociedade de controle, surgem novos mecanismos de vigilância, com poder suficiente para tornar o indivíduo incapaz de esboçar qualquer reação.
No Panóptico, o controle faz-se por meio da visibilidade total e permanente dos indivíduos. Assim, este dispositivo tornou-se o paradigma dos sistemas sociais de controle e vigilância total. Nas sociedades atuais, o princípio do Panóptico continua plenamente ativo, mas agora exerce-se nas novas formas de controle implementadas pelas novas tecnologias. A quase onipresença destas traz consigo novas práticas e novas relações de poder. Por possuírem apenas uma parcela mínima de materialidade, não necessitam de construções específicas. Os novos dispositivos são instalados no interior de todos os espaços já existentes.
Na sociedade disciplinar, o observador está presente e em tempo real a observar e a vigiar os indivíduos. Na sociedade de controle  esta vigilância torna-se rarefeita e virtual. Todavia, o efeito causado nos indivíduos parece ser o mesmo: são ao mesmo tempo visíveis e incapazes de ver.
Tanto nas sociedades disciplinares, quanto nas sociedades contemporâneas, os indivíduos sentem-se controlados pela força penetrante do olhar, tornando-se assim dóceis e úteis.

Cabe aqui colocar uma questão:

Será que os indivíduos modernos, têm consciência do carácter subordinante, dominador e insuportável da nova forma de vigilância? Ou consideram-na como natural?

 
Panóptico

      Ao estudar a "Sociedade Disciplinar", Foucault constata que a sua singularidade reside na existência do Desvio diante a Norma. E assim, para "normalizar" o sujeito moderno, foram desenvolvidos mecanismos e dispositivos de vigilância, capazes de interiorizar a culpa e causar no indivíduo remorsos pelos seus atos.
Dentre os dispositivos de vigilância do início do século, podemos destacar o Panóptico, de Jeremy Bentham, um mecanismo arquitetural, utilizado para o domínio da distribuição de corpos em diversificadas superfícies (prisões, manicómios, escolas, fábricas).
     O Panóptico era um edifício em forma de anel, no meio do qual havia um pátio com uma torre no centro. O anel dividia-se em pequenas celas que davam tanto para o interior quanto para o exterior. Em cada uma dessas pequenas celas, havia, segundo o objetivo da instituição, uma criança aprendendo a escrever, um operário a trabalhar, um prisioneiro a ser corrigido, um louco tentando corrigir a sua loucura, etc. Na torre havia um vigilante.
Como cada cela dava ao mesmo tempo para o interior e para o exterior, o olhar do vigilante podia atravessar toda a cela; não havia nenhum ponto de sombra e, por conseguinte, tudo o que o indivíduo fazia estava exposto ao olhar de um vigilante que observava através de persianas, de postigos semi-cerrados de modo a poder ver tudo sem que ninguém ao contrário pudesse vê-lo.
O panoptismo corresponde à observação total, é a tomada integral por parte do poder disciplinador da vida de um indivíduo. Ele é vigiado durante todo o tempo, sem que veja o seu observador, nem que saiba em que momento está a ser vigiado. Aí está a finalidade do Panóptico,

 ...induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funcionamento autoritário do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente nos seus efeitos...  
                                      Foucault,(1997),pag:166

 O Panóptico organiza espaços que permitem ver, sem ser vistos, portanto, uma garantia de ordem. Assim, a vigilância torna-se permanente nos seus efeitos, mesmo que não fosse na sua ação. Mais importante do que vigiar o prisioneiro o tempo inteiro, era que o mesmo se soubesse vigiado. Logo, não era finalidade do Panóptico fazer com que as pessoas fossem punidas, mas que nem tivessem a oportunidade para cometer o mal, pois sentiriam-se mergulhadas,  imersas num campo de visibilidade.
Em suma, o Panóptico desfaz a necessidade de combater a violência física com outra violência física, combatendo-a antes, com mecanismos de ordem psicológica.
A essência do Panóptico reside na centralidade da situação de inspeção, ou na construção, sem duvida ficcional, de uma espécie de "inspetor central", onipotente, onipresente e, principalmente, onividente. 

O Panóptico (...) tem seu principio não tanto numa pessoa como numa certa distribuição concertada dos corpos, das superfícies, das luzes, dos olhares; numa aparelhagem cujos mecanismos internos, produzem a relação na qual se encontram presos os indivíduos (...) Pouco importa, consequentemente, quem exerce o poder. Um indivíduo qualquer, quase tomado ao acaso, pode fazer funcionar a máquina: na falta do diretor, sua família, os que o cercam, seus amigos, suas visitas, até seus criados (...) Quanto mais numerosos esses observadores anónimos e passageiros, tanto mais aumentam para o prisioneiro o risco de ser surpreendido e a consciência inquieta de ser observado.             
Foucault, (1997), pag:167

Quem está submetido a um campo de visibilidade, e sabe disso, retoma por sua conta as limitações do poder; fá-las funcionar espontaneamente sobre si mesmos; inscreve em si a relação de poder na qual ele desempenha simultaneamente os dois papeis: torna-se o princípio da sua própria sujeição.
Foucault, (1997), pag:168

O Panóptico (...) deve ser compreendido como um modelo generalizável de funcionamento; uma maneira de definir as relações de poder com a vida quotidiana dos homens. Bentham sem duvida o apresenta como uma instituição particular, bem fechada em si mesma. Muitas vezes se fez dele uma utopia do encarceramento perfeito.
Foucault, (1997), pág:169

Para Bentham, qualquer punição deve ser encarada antes de tudo como espetáculo; importa menos o seu efeito sobre quem é castigado, do que as impressões que recebem todos aqueles que veem o castigo ou que dele são informados.
Na sua prisão panóptica, ocasionalmente se escutavam gritos horríveis - só que não de prisioneiros, mas de pessoas contratadas exclusivamente para semelhante propósito. A punição aparente, fictícia, produziria um bem para todos - a ordem, a disciplina - ao mesmo tempo que não produzia nenhum mal, exatamente porque o "mal" produzido teria sido forjado.
Todo o Panóptico, na verdade, é estruturado como uma ficção. É precisamente a aparente onipresença do inspetor que sustenta a perfeita disciplina no Panóptico, controlando os movimentos de transgressão entre os internos. Entretanto, como a onipresença não pode ser um atributo humano, resta forjá-la, simulá-la, quer por rondas aleatórias, quer pela arquitetura do lugar, que permite a cada um dentro das celas ser facilmente visto, ao mesmo tempo em que dificilmente vê quem o vê.
Em última análise, o inspetor perfeito, o inspetor onipresente, é aquele que nunca aparece - mas que pode aparecer a qualquer instante. O inspetor perfeito é, enfim, uma voz, um olho, um ofício carimbado, uma sombra indistinta no fundo do corredor.
Neste tipo de instituições, nós somos vistos, ou pensamos que somos vistos, sem vermos aquele que vê, nós escutamos uma voz, sem vermos o dono da voz. O Panóptico deve ser governado por um olhar e por uma voz desconectada do seu portador. O inspetor torna-se, então, uma espécie de fantasma. Em última instância, é uma entidade de ficção - ele não existe. Justamente por isto, ele pode provocar um medo superior ao de um guarda real, por mais cruel que esse guarda fosse.
A utopia panóptica - em si mesma uma obra de ficção - gerou outras tantas obras de ficção. Muitos livros tematizaram o Panóptico, em geral para repudiá-lo, ou exorcizá-lo. Dentre eles, o romance mais conhecido é 1984, de George Orwell, em que a figura onipresente e onividente (entretanto inexistente) do inspetor geral toma a forma do Big Brother, enfim, de um grande olho que pode ver todos os recantos. Orwell escreveu-o em 1948, invertendo os dois últimos algarismos para situar a sua utopia negativa.
O esquema Panóptico pode ser utilizado sempre que se deseja impor uma tarefa ou um comportamento a uma multiplicidade de indivíduos. 

O Panóptico (...) permite aperfeiçoar o exercício do poder. E isto de várias, maneiras: porque pode reduzir o número dos que o exercem, ao mesmo tempo que multiplica o número daqueles sobre os quais é exercido (...) Sua força é nunca intervir, é se exercer espontaneamente e sem ruído (...) Vigiar todas as dependências onde se quer manter o domínio e o controle. Mesmo quando não há realmente quem, assista do outro lado, o controle é exercido. O importante é (...) que as pessoas se encontrem presas numa situação e poder de que elas mesmas são as portadoras (...) o essencial é que elas se saibam vigiadas.
Focault, (1997), pág: 170

As instituições panópticas são leves e fáceis de manipular, utilizam princípios simples de correção e adestramento. É uma espécie de campo experimental de poder, assegura a sua economia, a sua eficácia e o seu funcionamento.
A base desta arquitetura institucional é o exame contínuo (a prova, o teste), para controlar "à nascença" as causas dos desvios. O sujeito torna-se culpado (ou com rendimento insatisfatório ou louco, ou doente) até prova (exame) em contrário. Em todos os dispositivos de disciplina, o exame, então, tem de ser altamente ritualizado.

O exame combina as técnicas da hierarquia que vigia e as da sanção que normaliza. É um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar, classificar e punir. Estabelece sobre os indivíduos uma visibilidade através da qual eles são diferenciados e sancionados. É por isso que, em todos os dispositivos de disciplina, o exame é altamente ritualizado. Nele  vêm-se reunir a cerimónia do poder e a forma da experiência, a demonstração da força e o estabelecimento da verdade (...) A superposição das relações de poder e das de saber assume no exame todo o seu brilho visível.
   Focault, (1997), pág: 154

 













[1] Texto adaptado para atividades em sala de aula. O texto original foi produzido por Ana Isabel Lopes e Sónia Santos. Instituto de Educação - Universidade de Lisboa.   Fonte: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/hfe/momentos/sociedade%20disciplinar/index.htm
 

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Trabalho de Filosofia: 1ª série/Ensino Médio - Projeto Roda Filosófica

Valor: cinco pontos (média final da 1ª e 2ª etapa)

Trabalho em grupo: mínimo de três pessoas e máximo de cinco pessoas.

1ª Etapa: cinco pontos
Pesquisa/Relatório (Normas da ABNT)

Pesquisar:
- Argumentos em defesa da paz: o diálogo como instrumento de solução de conflitos.
-Resistência pacífica (desobediência civil): Henry David Thoreau, Mahatma Gandhi e Martin Luther King
-Argumentos em defesa da guerra: a violência como instrumento de solução de conflitos.
-Ku Klux Klan (K.K.K.)
- Panteras Negras

2ª Etapa: valor cinco pontos
Debates entre os grupos.
Filme de referência: O grande desafio.

ENEM 2011 - PROVA DE CIÊNCIAS HUMANAS E SUAS TECNOLOGIAS

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ENEM 2011 - PROVA DE REDAÇÃO E DE LINGUAGENS, CÓDIGOS E SUAS TECNOLOGIAS

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